ALEMA

“Há lugares no Brasil, como no Maranhão, onde não existe esquerda e direita no universo do eleitor. Há apenas gente com fome”, diz presidente nacional do PL…

“Há lugares no Brasil, como no Maranhão, onde não existe esquerda e direita no universo do eleitor. Há apenas gente com fome”, diz presidente nacional do PL…

O presidente do PL, Valdemar Costa Neto, defende em entrevista ao GLOBO uma aproximação do bolsonarismo com o centro e até com eleitores da esquerda no Nordeste para vencer a eleição de 2026. O chefe da sigla acredita que, até lá, Jair Bolsonaro estará apto a concorrer, o que dependeria da aprovação, pelo Congresso Nacional, de uma anistia. Para Valdemar, a tarefa mais difícil será justamente convencer o ex-presidente e a ala mais extrema do seu partido, incluindo o deputado federal Nikolas Ferreira (MG), desse caminho mais moderado.

O presidente nacional do PL diz que apesar da vontade do ex-presidente Bolsonaro em mudar o comando do partido no Maranhão, a sigla deve continuar sob o controle do deputado Josimar Maranhãozinho. Veja na entrevista abaixo.

O primeiro turno expôs divergências entre o senhor e Bolsonaro. No Maranhão, o PL se coligou ao PT, por exemplo. O partido tende a ficar cada vez mais bolsonarista?

Bolsonaro não tem comparação. O que ele fez para nós jamais conseguiríamos na vida. Para ele, nós vamos ter de trazer esse pessoal para o nosso lado. Há lugares no Brasil, como no Maranhão, onde não há esquerda e direita. Há gente com fome. Vamos ter de trazer esse pessoal para ganhar a eleição. Trazer não é difícil. O duro é o Bolsonaro e o pessoal da extrema direita aceitar. Eles não querem.

No caso do Maranhão, seria o caso de trocar o diretório por pessoas mais bolsonaristas?

E vai encontrar bolsonarista onde no Maranhão? Agora, não é difícil, se você preparar o nosso pessoal, pedir para ir tirando esse pessoal desses partidos. Passa para o nosso ou passa para um outro partido que possa estar coligado com a gente. Mas isso não pode ser dez dias antes da eleição, como ele propôs para mim: “Não queremos coligação com ninguém da esquerda”.

É importante Bolsonaro aceitar essas alianças?

É importante porque nós temos que crescer. Nós temos que ganhar a eleição. O (senador) Rogério Marinho até falou uma boa esses dias: “Esse povo do Nordeste que vota no PT defende as nossas causas”. E é verdade isso. Agora, nós temos que ter jeito para trazer essa gente para nós. Nós temos que trazer para ganhar a eleição em 2026. Se nós não trouxermos esse pessoal, nós não temos maioria. Temos de trazer, com jeito, com Bolsonaro. Ele fez muito por nós, tem de ter jeito. Eles têm de entender. Não só ele. O Nikolas também. Ele é muito radical. Tem gente boa em todos os lugares e temos de trazer esse pessoal.

O senhor defende mais diálogo?

Sim, para trazer esse pessoal para a direita. Esse pessoal do centro que queira vir para o nosso lado.

O PL elegeu 510 prefeitos, bem longe da meta do senhor de 1.500 prefeituras. O que aconteceu?

Nosso partido teve um crescimento que me surpreendeu. Não fizemos 1.500, mas fomos quinto partido ou sexto. Fizemos a maior votação (quantidade de votos). O PSD queria fazer muitos prefeitos para impressionar Tarcísio (de Freitas) e Lula, só que vai ver quantas cidades pequenininhas fizeram. Eu também não esperava estar com nove capitais no segundo turno. Mas não teve empenho do partido para fazer mais prefeitos. Em São Paulo, poderíamos ter buscado uns 100 prefeitos. Era fácil, mas não trabalhamos nisso.

O senhor está impedido de se aproximar do ex-presidente. Qual foi o momento mais difícil durante a campanha?

A campanha toda, mas teve um momento muito difícil para mim. Eu separei três estúdios de gravação em Brasília, para os candidatos gravarem com Michelle, Bolsonaro e Nikolas. Trabalho danado para fazer isso, para acertar a agenda. Bolsonaro viu a relação e achou que era muita gente. Disse que não ia gravar com todos. Isso foi prejudicial e eu não tive como convencê-lo. Se eu pudesse, ajoelhava na frente dele.

Como vê a possibilidade de Tarcísio seguir no Republicanos e não migrar para o PL? Ele teria o apoio do senhor para 2026?

O candidato número um para nós é o Bolsonaro. Nunca perguntei se o Tarcísio vinha para o PL. Um dia, em um jantar, Tarcísio vira para mim e fala: “Valdemar, eu vou entrar no PL”. Eu disse: “eu sei, está cheio de notícia disso. Vou fazer a maior festa que um político já recebeu em São Paulo”. Ele pediu para esperar passar algumas coisas, privatização da Sabesp. Acho que ele não deixou o Republicanos porque ia prejudicar o partido no estado de São Paulo.

Ainda espera que ele venha?

Eu acho que ele vem, porque o Bolsonaro é do PL.

Mas se Bolsonaro seguir inelegível e Tarcísio quiser se candidatar pelo Republicanos vai ter o apoio do PL?

Não é vida ou morte para nós, mas eu gostaria que ele viesse, para nós é importante.

Ratinho, Zema ou Caiado podem ser um plano B?

Tenho na cabeça que Bolsonaro vai ser candidato. Vamos tentar agora negociar a anistia na eleição para presidente da Câmara.

A anistia é o principal caminho para Bolsonaro voltar a ser elegível?

Sim, vamos tentar isso agora, colocar Bolsonaro na anistia. Pode acontecer, no caminho, quando criar a comissão. Pautar a anistia não é difícil. Depois vai depender dos líderes e dos deputados. A gente faz uma emenda nessa comissão, aprova e vai para o plenário.

E no Senado?

Vai ser a mesma coisa. Vamos conversar com (Davi) Alcolumbre. Na minha opinião, Alcolumbre é a favor da anistia. Precisa saber como é que o Lula vai se comportar no ano que vem. O Lula pode ser a favor da anistia.

Alcolumbre assumiu o compromisso de votar o impeachment de Moraes em troca do apoio do PL para sua eleição à presidência do Senado?

Não, isso vai ser discutido para frente. Anistia foi colocado, mas não bateram o martelo. Rogério Marinho ainda vai conversar sobre como isso vai ser colocado. O grande problema é fazer o projeto da anistia andar.

O senhor está disposto a deixar o comando do PL?

Nem por reza brava, eu não falei isso. O pessoal entendeu mal. O Eduardo (Bolsonaro, cotado para assumir o cargo) não pode ser presidente do partido, porque ele não tem tempo para isso. Eu precisaria ser deputado de novo para ter imunidade, porque estou morto. Nós temos que achar um meio de nos defendermos. Se eu abrir a boca amanhã, posso ser preso de novo, como foi por causa de uma arma com registro que era do meu filho que não podia estar comigo. Não tenho a mínima intenção de sair.

Em quais pontos Marçal desafia o reinado de Bolsonaro na direita?

No começo do ano, Marçal veio falar comigo. Ele fala que eu o procurei, mas ele é mentiroso. Quando nos encontramos, ele disse: “Valdemar, queria entrar no PL e ser candidato a prefeito”. Eu respondi que estávamos apoiando o (Ricardo) Nunes. Ele ouviu e disse que só ele daria um jeito em São Paulo. Sugeri que ele saísse de senador em 2026, em dobradinha com o Eduardo Bolsonaro. Disse a ele para ter calma e lembrei que em 2022 ele levou um tombo ao se candidatar por um partideco.

Gostaria de ter Marçal no PL? Ele, hoje, tem portas fechadas no partido?

Se ele se comportar bem, o PL o trataria muito bem. Mas ele tem que se comportar e conversar com o Bolsonaro, pedir desculpa a todos e também ao Duda (Lima, marqueteiro de Nunes agredido por um assessor de Marçal).

Por que Bolsonaro não investe na Michelle como vice em 2026?

Eu acho que Bolsonaro não tem a intenção de colocá-la em um cargo no Executivo. É muito duro. Vejo o exemplo do próprio Bolsonaro: ele chegou em Brasília, como deputado, em 1990, e já tinha sido vereador e deputado estadual. É preciso de experiência para isso, acho que ele não a considera para esta função porque ela nunca viu uma administração na vida.

O Globo

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