ALEMA

Sertão – ‘Dois homens e um destino,’ embora trajetórias bem diferentes; a ‘guerra fria’ desde a Rua do Cancão, em Colinas…

Sertão – ‘Dois homens e um destino,’ embora trajetórias bem diferentes; a ‘guerra fria’ desde a Rua do Cancão, em Colinas…

No Maranhão político, há figuras que gritam — e há figuras que constroem. É nesse contraste que encontramos dois filhos da mesma Colinas: Márcio Jerry, deputado federal do PCdoB, e Marcus Brandão, empresário discreto e consolidado, irmão do governador Carlos Brandão e presidente do MDB estadual.

Ambos começaram cedo. Em 1985, Márcio Jerry posava magro e sorridente na sede do Diretório Central dos Estudantes da UFMA. Era o tempo do grito estudantil, do sonho socialista, das rodas de debate e do adesivo do PT na mochila. Já Marcus, em 1990, aparece em um calendário comercial de fim de ano — engravatado, à frente da própria empresa, vendendo arroz e representando gente que trabalhava de sol a sol. Enquanto um descobria a retórica, o outro descobria a fatura.

O tempo passou. Jerry se aproximou do então juiz Flávio Dino e seguiu pela trilha do poder político institucional — foi secretário, articulador de governo e chegou à Câmara dos Deputados. Já Marcus seguiu no privado, no anonimato dos bastidores. Não ocupou cargos públicos, mas construiu uma rede sólida de respeito e influência política — coisa rara para quem não vive de holofote.

O curioso é que, apesar de toda essa diferença de estilo, um parece obcecado pelo outro. Márcio Jerry mal disfarça sua antipatia visceral pelo Grupo Brandão. Mas a pergunta é: por quê?

A resposta está menos na política e mais no espelho. Porque Jerry, que passou a vida acusando “oligarquias” e “burgueses”, se incomoda profundamente com a existência de um Brandão que nunca precisou da política para existir. Marcus nunca disputou eleição. Nunca precisou de cargo. E, ainda assim, tem mais poder político que muito medalhão com mandato.

Jerry, que gosta tanto de falar de “mérito popular”, foi derrotado em sua própria cidade natal. Tentou eleger aliados. Nem a irmã conseguiu virar vereadora em Colinas. Já Marcus, sem microfone, sem grito, com uma calma quase irritante, consolidou o nome do irmão como governador — e hoje articula o tabuleiro da sucessão com naturalidade de quem tem café no bule.

O deputado não odeia Marcus pelo que ele faz. Odeia pelo que ele representa: a vitória silenciosa do trabalho constante sobre o barulho da teoria.

No fim, Jerry continua discursando para meia dúzia de militantes cansados, enquanto Marcus, de camisa branca e fala serena, segue costurando apoios, elegendo prefeitos e liderando o partido que um dia foi da velha guarda — e hoje comanda o futuro.

Colinas assiste tudo. Uma cidade que pariu dois projetos de poder: um de grito, outro de ação. E como a política não perdoa vaidades frustradas, o ressentimento virou crônica. E, convenhamos, uma crônica bem previsível.

Fonte: imagens ilustração da rede social dos personagens( Instagram).

 

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